quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

A força das imagens contra a barbárie: Uma proposta metodológica para o ensino da Segunda Guerra Mundial nas salas de aula da contemporaneidade.

Introdução
Quais as razões da permanente atualidade do debate sobre a Segunda Guerra Mundial nas salas de aula? Para que serve a história? Como o uso da informática e da internet pode ajudar o docente frente a este tema? Como entender o século XX? A busca por uma verdade e por novas interpretações acerca dos acontecimentos da história estão diretamente conectadas aos valores atuais com os quais convivemos. Assim, os fatos históricos ganham esta proporção na medida em que permanecem na memória das sucessivas gerações. De acordo com a concepção de Adorno, na intitulada obra Educação e Emancipação: “a exigência que Auschwitz não se repita é a primeira de todas para a educação” e “qualquer debate acerca de metas educacionais carece de significado e importância frente a esta meta.”

Não obstante, a Segunda Guerra Mundial se analisada sob a perspectiva dos fatos políticos, como sugeriu Karl Von Clausewitz através da máxima “a guerra é a continuação da política por outros meios”, mais do que qualquer outro evento, constituiu o momento iniciador de uma ordem que parece ser a mais estável alcançada no período histórico contemporâneo. Todos os outros períodos que entremeiam outros grandes acontecimentos político-militares, como o fim das guerras napoleônicas(1815), as guerras civis que se alastraram pela Europa(1848), a guerra franco-prussiana(1870), a Primeira Guerra Mundial(1914) e a Segunda Guerra Mundial(1939), foram todos mais curtos que o tempo que vai de 1945 até hoje, quando comemoramos os 65 anos do fim do conflito . Dessa maneira, é possível verificarmos que a guerra marcou profundamente todos os povos, todos os grupos e classes sociais, não apenas pelas modificações que produziu, mas também, por uma reelaboração de valores que provocou.

Sessenta milhões de homens em armas, entre 70 e 80 milhões de vítimas fatais em sua grande maioria civis, se contarmos também aqueles que morreram por fome e ou doença como resultado direto da guerra; A quantidade de vidas ceifadas chega a ser por volta de oito vezes maior do que na Primeira Grande Guerra, eliminou-se aproximadamente 4% da população mundial da época em escassos cinco anos. Esses números embora medonhos, por se tratarem de vidas humanas, ilustram o fantasma da guerra total apontada pelo historiador Eric Hobsbawn, entendida no contexto de uma grande guerra mundial e de nações que viveram e pensaram em termos de guerra no período de 1914 à 1945,do qual, sem a guerra, seria impossível compreender o Breve Século XX. Para tanto, não podemos esquecer que elas representam a própria barbárie da condição humana naquela época, a “qualidade das mortes” provocadas como conseqüência direta da guerra total entre os países beligerantes, assustaram através de cenários de degradação humana como nunca tinham sido vistos antes na História: campos de extermínio dotados de câmaras de gás, políticas de extermínio total de judeus, ciganos, homossexuais, deficientes mentais; intensa perseguição política, pesados bombardeios aéreos, violentos massacres sob as populações civis e o aperfeiçoamento de tecnologias criadas para espalhar a morte e o horror.

Como atualmente vivemos em um mundo repleto de imagens obtidos “diretamente” da realidade seja pela encenação ficcional ou pelo registro documental, e de que, sobretudo, para as novas gerações, as fontes visuais, como a televisão, o cinema e as iconografias, tornaram-se um importante instrumento de mediação e percepção do mundo, é que terei por objetivo neste presente trabalho, apresentar um roteiro didático que ilustre o racismo, a barbárie e o assassinato em massa de civis ocorridos no contexto da Segunda Guerra, através das representações criadas a partir do cinema clássico e moderno, documentos fílmicos institucionais produzidos por envolvidos no conflito, trechos de filmes documentários, capas de jornais e outras imagens que possam ser utilizados como recursos didáticos.

Basicamente, este material visa auxiliar o docente não-especialista nesta vertente historiográfica, a obter um maior alcance na complexão do entendimento dos estudantes de 4ºs e 5ºs anos do ciclo II do ensino fundamental e ensino médio, acerca da natureza, desenvolvimento, personagens importantes e conseqüências da Segunda Guerra Mundial. Trata-se de uma sugestão de abordagem do tema buscando uma implementação e apoio aos materiais didáticos já disponíveis para o professor, utilizando as fontes visuais e suas respectivas estruturas e códigos de linguagem que geram determinadas representações da realidade, sempre inerentes a uma totalidade histórica, portanto, que possuem natureza documental, e que aqui serão tratados como ferramenta pedagógica.

A origem dos materiais que constituem o corpus documental desta sugestão didática de abordagem pode toda ser facilmente encontrada na internet através de websites como o Youtube.com, pesquisas em bancos de imagens rastreadas pelo Google e Wikipedia.com, o que abre possibilidades também, para a formulação de instrumentos similares relacionados com outros temas. Além desses materiais que estarão contidos no CD-ROM, que se constituem principalmente de trechos, ou seja, que passaram por edição e cortes, ficaram referências para filmes, livros e outros materiais que possam ser úteis para o docente.


I - A Segunda Guerra Mundial: debates e dificuldades de interpretação.

Sessenta e cinco anos depois da explosão das bombas atômicas lançadas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagazaki e que colocaram formalmente um fim na Segunda Guerra Mundial, persiste um intenso debate sobre as origens e causas desta guerra. Interpretações clássicas dão lugar a novos enfoques, visões gerais embatem-se com narrativas do cotidiano. No entanto, permanece no interior deste debate historiográfico, uma forte ressonância de um senso comum que procura uma resolução simplista sobre o desencadeamento da guerra e uma explicação reconfortadora para o choque com as imagens de horror provocadas pela visão de milhares de cadáveres empilhados em valas coletivas de campos de concentração e extermínio pela Alemanha e Polônia. Assim, com a permanência de tais explicações confortadoras, às vezes o nazismo e o fascismo igualmente persistem em um limbo de interpretação, como se ambos os fenômenos se situassem em uma zona fora da história ou fora da compreensão humana. Como salienta o historiador Roney Cytrynowicz, a própria designação que se dá ao termo holocausto, ou shoá, em hebraico, para falar do genocídio de judeus ocorridos no nazismo indica uma espécie de recusa em lidar com o genocídio enquanto fenômeno histórico, e dar-lhe uma conotação religiosa, uma explicação última de um grande sacrifício em nome de algo superior .

Tais permanências desse forte senso-comum que entendem o genocídio de judeus – plano sistemático de extermínio decidido e executado por um Estado Moderno, dado como prioritário em meio à guerra e mesmo diante da derrota – e o justificam sob a idéia de que tudo isso só seria possível, por causa de uma doença moral que constituíam os sistemas políticos do fascismo e do nazismo, uma espécie de vírus contagiante ou embriaguez coletiva que se disseminara pela Alemanha e pela Itália. Segundo Benedetto Croce, o fascismo foi “uma perda de consciência, uma depressão cívica e uma embriaguez produzidas pela guerra” .

Outra concepção largamente difundida, de Freiderich Meinecke, é a de que o nazismo enquanto fenômeno político, pode ser analisado sob a perspectiva de um desvio da história, ou seja, um desvio inesperado da história evolutiva da Europa que teria retornado aos trilhos somente em 1945 . O fato é que uma análise não atenta dessas explicações, além de apontarem Adolf Hitler como um “gênio demoníaco” ou louco e assassino, colocam esses cruéis eventos fora da alçada da Historia.

Assim, imprimir uma irracionalidade nos atos levados a cabo pelo nazismo, poderá ser um verdadeiro engano na busca de uma aproximação histórica, como verificou Hannah Arendt em Eichmann em Jerusalém, ao observar que Adolf Eichmann que na guerra fora chefe e cabeça do esquema logístico da deportação de judeus da Europa Ocidental para os campos de extermínio, em um julgamento realizado em Israel em 1960, não era nenhum nazista convicto, anti-semita furioso ou assassino louco. Eichmann não era nada mais que um burocrata, calculista e frio que tentou garantir com o maior zelo a sua ascensão social tanto em termos econômicos como nos quadros da hierarquia nazista. Portanto, teria apertado parafusos ou comandado as deportações para a morte, assim como, qualquer outra tarefa que lhe fosse solicitado.

Desta maneira, seria muito mais fácil acreditar que Eichmann era um monstro anti-semita, do que perceber que o genocídio fosse o resultado de uma minoria de fanáticos anti-semitas combinados com uma maioria de burocratas oportunistas e banais, em um contexto de difusão de uma política declaradamente racista e eugenista; que desumanizava os judeus e outros povos considerados inferiores enviando-os para campos de extermínio. Assim também, seria muito mais fácil esquecer as contradições das políticas diplomáticas conciliatórias dos Aliados para com o nazismo pré-1939, o pacto nazi-soviético de Molotov e Ribbentrop e o conhecimento dos americanos da existência de campos de extermínio desde 1942.

Temos desta maneira, muito resumidamente, alguma das imagens que colocam os eventos ocorridos durante o período da Segunda Guerra Mundial em um fosso de interpretação e será com esses obstáculos que vamos nos debater na presente proposta didática, mostrar aos estudantes que tais acontecimentos não são tão remotos ou novamente inatingíveis e que, desde então, trata-se de uma possibilidade permanente.


II - Um breve enquadramento histórico da Segunda Guerra Mundial 1939-1945.

Segundo a clássica análise feita por Ernest Mandel, na busca por um entendimento da conjuntura e significado da Segunda Guerra Mundial , salientou que, o advento do capitalismo monopolista implicou uma profunda transformação nas relações de competição política e econômica entre os países. O imperialismo europeu e a conseqüente busca por novos mercados e acesso a matérias primas acirrou esta competição e levou-a imbuir-se de uma natureza destrutiva em meio à uma constante militarização e de um reflexo ideológico: a justificação e a glorificação da guerra. Visto através de outra forma, o desenvolvimento das indústrias, o aumento das capacidades produtivas, o aumento do produto total das principais potencias industriais e em especial, a própria expansão do capital financeiro e dos potenciais de investimento, faziam com que essas operações se estendessem cada vez mais para fora das fronteiras dos Estados-nação europeus, provocando uma grande disseminação externa de capitais nacionais distribuídos nos recém-criados impérios coloniais.

A conjuntura desses fatores passou cada vez mais indicar que o crescente conflito entre as forças produtivas que então surgiam e as estruturas políticas predominantes não poderiam ser mais contidos pela diplomacia convencional; e a formação de coalizões entre as potencias em torno deste conflito, levará antever o que foi a Primeira Guerra Mundial, que, no entanto, não conseguiu resolver o choque progressivo das contradições entre a economia e a política no seio do mundo capitalista.

Para Osvaldo Coggiola, a Segunda Guerra caracterizou-se simultaneamente por ser um conflito interimperialista (contradições nacionais) e contra-revolucionário (contradições sociais ou de classe) em que a destruição da União Soviética visava interromper de vez o processo revolucionário iniciado em 1917. Sob a perspectiva do historiador “revisionista” alemão Ernst Nolte, cuja tese central gira em torno do nexo lógico e causal entre o extermínio social bolchevique e a política racial nacional-socialista, salienta o papel das idéias e das ideologias para o entendimento das origens e causas do início do conflito, no contexto de uma guerra entre revolução-contra-revolução. Para tanto, os democratas ocidentais com extrema lucidez e através da fracassada política de apaziguamento levada a cabo pelos Aliados, se serviram da Alemanha – cordão sanitário -, sem o menor preconceito ideológico em relação ao nazismo, contra a União Soviética (ou seja, contra as bases econômicas e sociais remanescentes do Estado operário).

É importante lembrar também dos quadros da terrível crise econômica que abalara as estruturas do capitalismo internacional durante o Craque da Bolsa de Nova York 1929 e do período de Grande Depressão mundial da década de 30 que afetou a maioria dos países, sobretudo a Alemanha, onde seu principal reflexo foi através de uma violenta crise hiperinflacionária, assim, a Segunda Guerra teria sido a única solução possível para esta desestabilização. Outra marca de diferenciação importante com relação à Primeira Guerra, ou seja, a anexação de um motor artificial à maquina enguiçada capitalista através da introdução de uma economia armamentista e posteriormente, de uma economia de guerra).

Nesse contexto, o historiador inglês A.J.P. Taylor vê uma problemática no que concerne à intenção da Alemanha e Japão terem levado o mundo a beligerância, segundo o autor, o início do conflito mundial teria sido “imposto” pelas potências aliadas. O Japão, dado os embargos impostos pelos americanos em agosto de 1941, “estava fadado a render-se ou ir à guerra”. E a Alemanha, se pensarmos no caráter objetivo das contradições às quais estava submetido o imperialismo alemão – lembremos do Tratado de Versalhes – estava praticamente obrigada a envolver-se numa disputa de alcance mundial devido ao choque inevitável com o imperialismo norte-americano.

Embora estejam explanados aqui de maneira muito sintética alguns pontos relevantes da conjuntura crítica que antecedeu o deflagramento do conflito, eles serão utilizados como balizas e referências para todo o processo de seleção de fontes e do percurso didático proposto.


III - A história no cinema e a Segunda Guerra Mundial: uma ferramenta pedagógica para os estudantes do século XXI.

A historiadora Circe Bittencourt ao relatar sobre o uso de materiais cinematográficos como material didático para facilitar o aprendizado da disciplina de História, verificou que este método era largamente utilizado como uma forma de abandonar ao tradicional de método de memorização, onde os estudantes eram submetidos a leituras de inúmeras páginas de insuportáveis seqüencias de eventos . Neste processo de desenvolvimento das técnicas audiovisuais, os filmes penetraram no cotidiano dos estudantes pela televisão, pelo computador e o vídeo; a aprendizagem “pelos olhos”, desde então, passou a ser vista como uma possibilidade.

Quanto à utilização das fontes audiovisuais (cinema, televisão e registros sonoros em geral) pelos historiadores e a sua elevação à condição de uma nova fonte primária, o historiador Marcos Napolitano explicita que, do ponto de vista metodológico, erroneamente elas foram consideradas como um testemunho quase direto e objetivo da história . Por outro lado, as vezes são estigmatizadas em torno da figura de que representam uma subjetividade absoluta, impressões estéticas de fatos sociais objetivos que lhes são exteriores. Assim, Napolitano propõe uma especial atenção ao trabalhar com fontes audiovisuais com relação à percepção e consideração das estruturas internas de linguagem e seus mecanismos de representação da realidade. Portanto, a utilização desses materiais impõem os obstáculos de duas visões distintas, uma é a visão “objetivista” que decorre do “efeito de realidade” provocado pelas formas de registro técnico dessas fontes que induzem imediatamente ao observador à aderir o referente (a “realidade” fotografada) à representação (o registro fotográfico em si); a outra é a da visão “subjetivista” que causa uma “ilusão de subjetividade” onde tais fontes teriam um conjunto de significados quase relativos e insondáveis pelo historiador. Como observa Napolitano, “a força das imagens, mesmo quando puramente ficcionais, tem a capacidade de criar uma realidade em si mesma” e a “análise é pautada pelo grau de ‘realismo’ e ‘fidelidade’ do filme histórico, em relação aos eventos ‘realmente’ ocorridos” .

Assim, o mais importante na análise de um filme e utilização pelo historiador como fonte documental, é a verificação e entendimento do porquê das adaptações, omissões e falsificações que são apresentadas num filme. A tensão entre subjetividade e objetividade, impressão e testemunho, intervenção estética e registro documental são as marcas das fontes históricas audiovisuais. E será nessa perspectiva, que sinteticamente farei a descrição dos excertos de vídeos escolhidos, por exemplo, comparando a exibição de um filme documental com a representação de um filme do cinema em que se dá a monumentalização do passado sobre determinado evento da Segunda Guerra Mundial, assim, poder-se-á chegar a conclusões que objetivem melhor que a sociedade não é mostrada, mas encenada nas produções cinematográficas. Numa outra direção é a análise do historiador Marc Ferro, de que o documento fílmico possui um valor de “testemunho” indireto e involuntário de um evento ou processo histórico e a sua veracidade ou não, estaria diretamente ligada à manipulação intencional dos realizadores (edição, truncagem, censura).

Como se tratam de trechos, não será possível entrar nos méritos de uma apurada análise de estrutura melodramática dos filmes, porém, ficará indicada uma bibliografia a respeito desta metodologia de análise; ainda sim, vale ressaltar, que a estrutura desses filmes de monumentalização da história - A lista de Schindler, O resgate do soldado Ryan, Pearl Harbor, entre outros - tendem além de provocar uma explosão emocional no espectador perante atos que mais parecem resultado de escolhas morais, advindas da “natureza” humana ou de qualidades individuais, também tendem a atenuar a problemática da história representada no filme.


IV - Roteiro de análise dos filmes selecionados

Seguem abaixo a descrição dos filmes utilizados neste trabalho. Todos eles estarão embutidos na pasta “vídeos” presente no CD-ROM e ordenados em seqüência numérica, assim, basta seguir a ordem indicada para a visualização dos respectivos vídeos.

Filme 1 – Apresentação (Duração 2:04 min)

Filmes utilizados na edição:
A Guerra Total in Coleção Século do Povo: Os testemunhos diretos de seus protagonistas. Produção/Direção: Peter Pagnamenta. Gênero: documentário. Lisboa: Ediclube, 1997. 69min.
Things to come (Daqui a cem anos). Direção: William Cameron Menzies. Produção: Alexander Korda. Roteiro: H.G. Wells. Gênero: ficção. Inglaterra: 1936. 92 min.
Descrição: Este filme apresenta cenas da coleção documentário Século do Povo e do filme inglês Daqui a cem anos. Inicialmente, verificamos algumas imagens que destacam algumas peculiaridades do século XX nos mais diversos âmbitos. A seguir, visualizamos imagens retratadas pelo filme Daqui a cem anos sob a perspectiva dos anos 30 de como poderia ser a próxima guerra; e o que o filme retrata é justamente uma guerra em que a população civil seria o grande alvo. O filme foi feito em 1936, em contraposição a esta perspectiva imaginada pelo filme, no mesmo ano inicia-se uma espécie de ensaio do que viria ser a Segunda Guerra Mundial: a Guerra Civil Espanhola e a invasão da Manchúria pelo Japão em 1937. Portanto, nesta edição dos filmes, podemos verificar uma mescla comparativa de uma guerra imaginada e outra realizada, e que ilustra, em grande medida, a nova natureza destrutiva da guerra.


Filme 2 – A ascensão do nazismo na Alemanha (Duração 2:28 min)

Filme utilizado na edição:
The architecture of Doom (Arquitetura da Destruição). Direção: Peter Cohen. Gênero: documentário. Suécia: 1989. 119 min.
Descrição: Cenas do filme Arquitetura da Destruição que nos dão uma dimensão hipnótica da mobilização das massas em torno do NSDAP (partido nazista). As imagens fazem referência aos grandes comícios realizados pelo partido nazista e a constituição das milícias para-militares denominadas SA. Mostrando o grande número dos estandartes nazistas (swastika) o filme dá uma explicação da concepção nazista de purificação racial da sociedade. Neste filme, também temos um trecho (a.p. 1:10 min) que ilustra a grande mobilização do partido nazista, numa grande marcha repleta de tochas acesas, na chegada de Adolf Hitler a chancelaria do Reich, portanto, ao caminho do estado totalitário. Neste momento, como salienta o historiador alemão Joachim Fest, “Para alcançar a segunda fase de tomada do poder, era indispensável dominar aquelas energias revolucionárias e descontroladas; [...] Hitler demonstrou estar decidido a pôr um fim no ímpeto revolucionário: o essencial era ´reconduzir a torrente impetuosa da revolução ao leito mais seguro da evolução” .
Winston Churchill em seu livro de memórias descreve o mesmo episódio da subida de Hitler ao poder frente a instabilidade política: “Afinal, não seria a melhor solução aplacar Hitler, lançando sobre ele as responsabilidades e os ônus do cargo? Hindenburg enfim consentiu, relutante. Em 30 de janeiro de 1933, Adolf Hitler assumiu o cargo de chanceler da Alemanha” .


Filme 3 – A superioridade da raça e o anti-semitismo (Duração 3:30 min)

Filme utilizado na edição:
The architecture of Doom (Arquitetura da Destruição). Direção: Peter Cohen. Gênero: documentário. Suécia: 1989. 119 min.
Descrição: Inicialmente verificamos um discurso de Adolf Hitler acerca da meta de purificação racial do povo alemão. Podemos ver também as cenas de um filme do cinema alemão de 1937 intitulado Opfer der Vergangenheit(Vítimas do passado) que cria uma espécie de sustentação ao discurso eugenista de Hitler.

Filme 4 – Anexação da Áustria e a Noite dos Cristais (Duração 3:18 min)

Filme utilizado na edição:
History channel – Kristallnacht: a documentary. Direção: não disponível. Gênero:documentário.Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=xVVD3C2apVs . Acessado em 7 de setembro de 2010.
Descrição: Neste excerto do documentário do canal de TV History Channel podemos ver a mobilização empreendida durante o processo de anexação da Áustria à Alemanha (fevereiro de 1938) e dos episódios de 9 e 10 de Novembro de 1938, mais conhecida como Noite dos Cristais, quando iniciaram-se violentas perseguições aos cidadãos de origem judaica através do estilhaçamento de vidros de suas lojas e casas. Este movimento também caracterizou-se pela queima de milhares de livros que não fossem de autores “genuinamente” alemães.

Filme 5 – A Invasão da Polônia e a Guerra Relâmpago (Duração 10:00 min)

Filme utilizado na edição:
Invasão da Polônia. Direção: não disponível. Gênero: documentário/montagem Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=bpYpbiIZDGw . Acessado em 7 de setembro de 2010.
Descrição: Neste excerto de documentário aonde foi compilado vários trechos dos preparativos e desenvolvimento da guerra da Alemanha contra a Polônia. Este filme além de mostrar o funcionamento da guerra relâmpago executada pelo exército alemão, evidencia uma conseqüência objetiva do acordo nazi-soviético de Ribbentrop e Molotov; podemos ver em uma etapa do filme, que, simultaneamente ao avanço do exército alemão se dava o avanço russo (divisão da Polônia acordada), e os comandantes dos dois exércitos (soviético e alemão) trocam cumprimentos quando a Polônia assina a rendição. Churchill relembra este episódio em suas memórias: “Entrementes, em volta da mesa do Gabinete, testemunhávamos a destruição rápida e quase mecânica de uma nação mais fraca, de acordo com o método e com o longo projeto de Hitler. Mais de 1.500 aviões modernos foram lançados sobre a Polônia, e 56 divisões, incluindo todas as suas nove divisões blindadas e motorizadas, compuseram o exército invasor” ; no dia 18 de setembro, os exércitos russos que cruzaram em massa a fronteira oriental “encontraram-se com os colaboradores alemães[...] em Brest-Litovisk, era com a Alemanha de Hitler que os comunistas russos trocavam sorrisos e apertos de mão”.

Filme 6 – O Pianista: da Polônia derrotada aos muros do gueto de Varsóvia (Duração 4:46 min)

Filme utilizado na edição:
O Pianista. Direção: Roman Polanski. Gênero: drama. Inglaterra: Europa filmes, 2002. 148 min.
Descrição: Embora seja um trailer, os trechos nos dão uma boa visão do processo iniciado com a invasão da Polônia, a criação de cercamentos através dos muros na cidade de Varsóvia que passaram a expressar a divisão entre a população de origem judaica das demais, a sistematização da “Solução Final” e a liberação da Polônia com a vitória russa no front oriental.

Filme 7 – Adolf Hitler: o inimigo das democracias ocidentais (Duração 2:31 min)

Filme utilizado na edição:
O Grande ditador. Direção: Charles Chaplin. Gênero: comédia. EUA: 1940. 124 min.
Descrição: Este clássico do cinema constitui uma paródia de Hitler e do nazismo. Produzido em 1940, uma data em que o expansionismo alemão já pretendia se refletir em termos de uma Europa ocupada, o trecho remonta a “brincadeira” que Hitler fazia com o mundo ou como ele arrastou o mundo para a guerra.

Filme 8 – Imagens do holocausto, o sofrimento nos guetos (Duração 05:09 min)

Filme utilizado na edição:
The holocaust in color nazi rising terror and concentration camps . Gênero: documentário/montagem.
Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=bpYpbiIZDGw . Acessado em 7 de setembro de 2010.
Descrição: Este filme constitui-se de uma montagem de várias imagens tomadas no interior dos guetos na Polônia onde é retratado o enorme sofrimento dos judeus.

Filme 9 – Hitler vai à Paris (Duração 04:14 min)

Filme utilizado na edição:
Invasion of France, Belgium and Holland. Gênero: documentário/montagem.
Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=ABv9IrGT5qs. Acessado em 7 de setembro de 2010.
Descrição: As cenas desse filme remontam a invasão da França e dos Países Baixos. Ao contrário do que havia acontecido na Primeira Guerra Mundial, os franceses esperavam um ataque nos limites da região da Álsacia-Lorena, na denominada Linha Maginot. No entanto, Hitler começou a invasão pela Bélgica, o que pegou os franceses e os demais Aliados totalmente desprevenidos, esse evento, deu origem a maior evacuação de soldados que se tem notícia, O Resgate de Dunquerque, mais de 3 milhões de soldados – principalmente ingleses e franceses - tiveram de ser resgatados e enviados para a Inglaterra afim de fugir do forte avanço alemão.

Filme 10 – O ataque japonês em Pearl Harbor (Duração 3:50 min)

Filme utilizado na edição:
Pearl Harbor. Direção: Geoff Hubbard; Martin Laing. Gênero: ação. EUA: 2001. 193 min.
Descrição: A visão hollywoodiana composta pelo triângulo amoroso na ocasião do ataque de japonês de Pearl Harbor. Este evento fez com que a os EUA definitivamente abandonassem a posição de neutralidade com relação à guerra.

Filme 11 – Um ano após Pearl Harbor (Duração 1:35 min)

Filme utilizado na edição:
Attack on Pearl Harbor. Gênero: documentário/montagem.
Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=HAnOtWm5OrM. Acessado em 7 de setembro de 2010.
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Descrição: Neste trecho de filme podemos identificar a voz do presidente americano Roosevelt fazendo um discurso um ano após o ataque japonês. A seguir, verificamos a ação da aviação e marinha americana em território japonês e no teatro de operações do Pacífico.


• Filmes 12, 13 e 14 – A batalha no Leste, Stalingrado (Durações 7:00, 1:12, 4:16 min)





Filmes utilizados na edição:
World War Two, Stalingrad, The Battle. Gênero: documentário/montagem.
Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=uekxMsDneaA. Acessado em 7 de setembro de 2010.

1942 at the gates of Stalingrad. Gênero: documentário/montagem. Procedência: Arquivo Pessoal Romano Archives (www.romanoarchives.altervista.org)
Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=zuRd-ycvIIg. Acessado em 7 de setembro de 2010.

Círculo de Fogo. Direção: Jean Jacques Annaud. Gênero: guerra. EUA: 2001. 131 min.
Descrição: Os três filmes ilustram o início e desenvolvimento do conflito na frente oriental numa das maiores batalhas da história das guerras: a batalha de Stalingrado. Hitler ordenara o planejamento da Operação Barbarossa (invasão da URSS) que foi posta em prática em junho de 1941. Por muito pouco o exército nazista não obteve um sucesso, ficando a poucos quilômetros de Moscou. Como referencia o historiador Philippe Masson: “Tendo em vista o atolamento alemão no Cáucaso e a resistência acirrada de Stalingrado, o Exército Vermelho reconstituiu uma massa de manobra, achando-se assim em condições, sob a direção do geral de Jukov, de desencadear, de 19 a 23 de novembro, de um lado e do outro da curva do Volga, um ataque contra as posições[...]integrando-se a uma manobra em pinça que resulta no cerco do 6º Exército de Paulus e do 4º Panzer. Assim, 220 mil alemães acham-se cercados num bolsão de 40km de comprimento por 25 de largura a oeste de Stalingrado ”. Este evento tornou-se um marco definitivo da derrota e esfacelamento do exército alemão, em fevereiro de 1943, embora para Hitler a destruição da URSS fosse ainda uma política de estado, o exército alemão já se encontrava totalmente desgastado.

Filme 15 – A guerra no Pacífico: Iwo Jima (Duração 1:31 min)

Filme utilizado na edição:
Cartas de Iwo Jima. Direção: Clint Eastwood. Gênero: guerra. EUA: 2001. 135 min.
Descrição: Este filme retrata a guerra no Pacífico (Ilhas Salomão) do “ponto de vista japonês”. Sem sombra de dúvidas, para os americanos, esta foi uma das mais importantes batalhas: foi a única batalha em que o número de baixas entre os americanos fora quase duas vezes maior que as baixas japonesas, a afixação de uma bandeira no topo de uma montanha, cenário desta batalha, deu origem à uma das mais populares imagens feitas da Segunda Guerra Mundial no front do Pacífico.


• Filme 16 – Insurreições e Resistências: O levante no gueto de Varsóvia (Duração 3:15 min)

Filme utilizado na edição:
Uprising (Levante no gueto de Varsóvia). Direção: Jon Avnet. Gênero: guerra. EUA: 2001. 159 min.
Descrição: Após uma virada de rumos no front soviético, as populações enclausuradas nos guetos passam a instituir diversas formas de resistência, inclusive com a formação de organizações para-militares. Este filme representa como os alemães passam a ser expulsos da Polônia e de certa forma ilustra as formas de resistência armada encabeçadas em outros países da Europa, a maioria dessas organizações, dirigidas pelos partidos comunistas dos respectivos países.


• Filmes 17, 18 e 19 – A América vai à guerra: o Dia D (Durações 7:00, 9:00 e 10:00 min)





Filmes utilizados na edição:
Band of Brothers. Direção: Tom Hanks; David Frankel. Gênero: Série/Drama/Guerra. Inglaterra: 2001.

1944 D-day in Color. Gênero: documentário/montagem.
Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=JuPsZYARNFs. Acessado em 7 de setembro de 2010.

Resgate do Soldado Ryan. Direção: Steven Spielberg. Gênero: Drama/Guerra. EUA: 1998.
Descrição: Temos três filmes que fazem uma representação do que foi o Dia D . O filme número 18 foi feito pelo próprio exército americano no dia do desembarque na costa da Normandia. Os outros dois filmes são representações hollywoodianas acerca da importância deste evento na história americana. Um traço muito comum destas representações norte-americanas, é a idéia de que os EUA entraram para decidir a guerra, o que há um intenso debate em torno da historiografia, já que, uma outra vertente interpreta que o verdadeiro peso da guerra na Europa fora suplantada pela URSS.



• Filme 20 – Atrocidades às populações civis cometidas pelos Aliados: a destruição de Dresden na Alemanha (Duração 3:05 min)

Filme utilizado na edição:
Bombing of Dresden during world war two. Gênero: documentário/montagem.
Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=9J6uI8do-CA. Acessado em 7 de setembro de 2010.
Descrição: Filme produzido através de uma vista aérea dos pesados bombardeios realizados pelos americanos em fevereiro de 1945 atingindo populações civis sem nenhuma justificação do ponto de vista militar. A cidadã alemã de Dresden ficou inteiramente sobre escombros, teve de ser totalmente reconstruída após a guerra .


Filme 21 – O Brasil na guerra: a Força Expedicionária Brasileira (Duração 5:58 min)

Filme utilizado na edição:
FEB. O Brasil na Segunda Guerra Mundial Gênero: documentário/montagem.
Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=pcWMPcAsS3M. Acessado em 7 de setembro de 2010.
Descrição: Este documentário é muito útil para ilustrar a participação brasileira no front italiano na Segunda Guerra através da FEB em julho de 1944. Aparecem trechos da mobilização em prol da guerra no Brasil e imagens da ação dos pracinhas da FEB na tomada de Monte Castelo e Montesi .


Filmes 22 e 23 – O horror da barbárie: A solução final (Durações 4:33 e 4:44 min)



Filme utilizado na edição:
A Lista de Schindler. Direção: Steven Spielberg. Gênero: drama. EUA: 1993. 195 min.

Liberation of Buchenwald and Dachau concentration camp. Gênero: documentário/montagem.
Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=3QtfxRTZdKk Acessado em 7 de setembro de 2010.
Descrição: A seleção desses dois filmes nos dá uma grande idéia da sistematização da política de extermínio e da solução final nazista nos maiores campos da morte como Auschwitz, Dachau, Buchenwald, Treblinka, Plaszow entre outros. O segundo filme selecionado foi filmado quando os americanos liberaram o campo de extermínio de Buchenwald e se depararam com uma desoladora cena.


Filmes 24 e 25 – A batalha de Berlim e a queda do Terceiro Reich (Durações 5:51 e 9:32 min)



Filmes utilizado na edição:
Battle of Berlin: fall of nazi germany, soviet victory. Gênero: documentário/montagem.
Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=GFAvAINXv2E Acessado em 7 de setembro de 2010.
A Queda: As Últimas horas de Hitler. Direção: Oliver Hirschbiegel. Gênero: guerra. Alemanha/Itália: 2004. 150 min.
Descrição: Estes dois vídeos representam os momentos que antecedem a queda do Terceiro Reich e a destruição da cidade de Berlim causada pela luta de resistência das brigadas nazistas e da SS frente ao cerco do exército vermelho .

Filme 26 – A bomba atômica de Hiroshima (Duração 1:35 min)

Filmes utilizado na edição:
Hiroshima atomic bomb explosion. Gênero: documentário/montagem.
Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=Sk3Z86K_T_8 Acessado em 7 de setembro de 2010.
Descrição: A imagem do evento do lançamento da bomba atômica sobre Hiroshima no dia 6 de agosto de 1945 que acabou com qualquer chance de resistência dos japoneses e colocou um fim na Segunda Guerra Mundial.

V – Sugestão de atividade

Pedir para que os alunos redijam um texto abordando a seguinte questão: O que são as guerras para os poderosos do mundo? O que são as guerras para os homens e mulheres comuns?

VI – Leituras complementares para os alunos

BECKER, Jurek. Jakob, o mentiroso. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.

FRANK, Anne. O diário de Anne Frank. 13. Ed. Rio de Janeiro: Record, 1997.

MOCELLIN, Renato. O nazismo. São Paulo: FTD, 1998.

SALEM, Helena. As tribos do mal: o neonazismo no Brasil e no mundo. 4. Ed. São Paulo: Atual, 1995.

VII – Sugestão de outros filmes para serem trabalhados com os alunos.

ADEUS, meninos. Direção: Louis Malle. França/Alemanha, 1987. Distribuição: Globo Vídeo. 103 min

A LÍNGUA das mariposas (La lengua de las mariposas). Direção: Jose Luis Cuerda. Espanha, 1995. Distribuição: Warner. 95 min.

OS MENINOS do Brasil. Direção: Franklin J. Schaffner. Estados Unidos, 1978. Distribuição: Top tape. 123 min.

UMA CIDADE sem passado. Direção: Michael Verhoeven. Alemanha, 1990. Distribuição: Globo Vídeo. 92 min.

OLGA. Direção: Jayme Monjardim. Brasil, 2004. Distribuição: Lumiére. 141 min.

BASTARDOS inglórios. Direção: Quentin Tarantino. EUA, 2009. Distribuição: Universal Pictures do Brasil. 162 min.

O MENINO de Pijama Listrado. Direção: Mark Herman. EUA, 2008. Distribuição: Miramax Films. 94 min.

UM ATO de Liberdade. Direção: Edward Zwick. EUA, 2008. Distribuição: Flashstart. 137 min.

OS DEUSES vencidos. Direção: Edward Dmytryk. EUA, 1958.

O IMPÈRIO do sol. Direção: Steven Spielberg. EUA, 1987. Distribuição: Warner Bros. 155 min.

DR. FANTÀSTICO. Direção: Stanley Kubrick. Inglaterra, 1964. Distribuição: Columbia Pictures. 93 min.

OPERAÇÃO VALQUÍRIA. Direção: Bryan Singer. Alemanha/EUA, 2008. Distribuição: MGM. 121 min.

VIII - Bibliografia utilizada e recomendada.

BITTENCOURT, Circe M. F. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2009

ADORNO, Theodor. Educação e Emancipação. São Paulo: Paz e Terra, 2010.

MANDEL, Ernest. O significado da Segunda Guerra mundial: São Paulo, Ática, 1989.

COGGIOLA, Osvaldo(org.). A Segunda Guerra Mundial: um balanço histórico. São Paulo: Xamã, 1995.

NOLTE, Ernst. La Guerra Civil Europea 1917-1945: Nacionalsocialismo y bolchevismo. México: Fondo de Cultura Económica, 1989.

MASSON, Philippe. A Segunda Guerra Mundial: história e estratégias. São Paulo: Contexto, 2010.

FEST, Joachim. Hitler, v.2 1933 a 1945. Trad. Analúcia Teixeira Ribeiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.

CHURCHILL, Winston S. Memórias da Segunda Guerra Mundial. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005

KEEGAN, John. The Second World War. New York: Penguin Books, 1989.

HOBSBAWN, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995

TAYLOR, A. J. P. The origins of the second world war. New York: Simon & Schuster, 2005.

MILWARD, Alan. La Segunda Guerra Mundial 1939-1945. Barcelona:Crítica, 1986.

MAYER, Arno. La “Solution Finale” dans l´Histoire. Paris: La Découverte, 1990.

TROTSKY, Leon. Revolução e Contra-Revolução na Alemanha. São Paulo: Ciências Humanas, 1979.

MANDEL, Ernst. O papel do indivíduo na História: o caso da II Guerra Mundial. São Paulo: 17/18, 1989.

CYTRYNOWICZ, Roney. Memória da Barbárie: A História do Genocídio dos Judeus na Segunda Guerra Mundial. São Paulo: EDUSP, 1990.

COGGIOLA, Osvaldo. História e Crise Contemporânea. São Paulo:Pulsar, 1994.

FELICE, Renzo. Explicar o fascismo. Lisboa: Edições 70.

ARENDT, Hannah. Eichmann em Jerusalém. São Paulo: Diagrama e Texto, 1983.

ARENDT, Hannah. Origens do Totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

CAPELATO, Maria Helena. História e Cinema. São Paulo: Alameda, 2007.

sábado, 27 de novembro de 2010

O governo civil de John Locke e a Carta de Direitos do Homem e do Cidadão (1789)

O século XVIII, ou o século do Iluminismo, é fortemente marcado pela secularização e por uma nova postura espiritual em todas as atividades humanas . Verificamos uma evolução brusca do século XVII para o XVIII, nos termos de uma mudança na crença no direito divino para o direito natural, da divisão da sociedade em classes desiguais para a igualdade entre todos os homens, em suma, na pretensão pelo fim das sujeições, autoridades e dogmas que regulavam a vida dos homens no século anterior . De 1680 a 1715 percebemos o florescer de uma nova perspectiva no que concerne à resolução de uma série de antigos problemas tais como a existência e natureza de Deus, a liberdade, os direitos do soberano e a formação do estado social, assim, nesse âmbito, é que se darão as transformações que levaram da estabilidade ao movimento, do antigo ao moderno .


Desta forma, de um Iluminismo inicial ao Alto Iluminismo, que vai de Descartes, Espinosa e Locke à Kant, Rousseau e entre outros, é que se consolidará a mudança de atitude fundamental com relação à estruturação de uma consciência moderna que se baseia na destruição da ordem estática da sociedade e pelo desprezo da tradição; a palavra de ordem é que os homens tenham a coragem de se servir do próprio entendimento e abandonar a sua menoridade culpada . Portanto, o projeto das Luzes absorve e articula muitas opiniões, que antes, estavam em conflito; de maneira que podemos identificar que as Luzes são muito mais uma “época de conclusão, de recapitulação, de síntese – e não de inovação radical” , logo, será através das idéias centrais desse projeto – autonomia, finalidade humana de nossos atos e a universalidade –, e sobretudo, pelo forte apreço pela liberdade e a igualdade, que este projeto visará retirar os homens da antiga tutela do Antigo Regime e buscar uma nova base de legitimidade para as sociedades políticas.


Um olhar atento aos dezessete artigos da Carta de Direitos do Homem e do Cidadão redigida e aprovada pela Assembléia Nacional Constituinte da França revolucionária em 2 de outubro de 1789, nos revela, claramente, a forte presença de um desses modelos inspiradores do Iluminismo, baseada na obra de John Locke, o Segundo Tratado do Governo(1698). Pai do iluminismo inglês, ideólogo da burguesia britânica e porta-voz da Gloriosa Revolução (1690), criou um modelo de filosofia política que pretendia identificar “a verdadeira origem, alcance e finalidade do governo civil”, e que acabou se tornando um dos mais importantes fundamentos ideológicos da Revolução Americana(1776) e da Revolução Francesa(1789), cujo eixo central orbita em torno da liberdade, entendida como “fundamento de tudo o mais que um homem possa ser ou ter” , fermento este, catalisador do processo de consolidação dos constitucionalismos, do ideal de Estado de Direito, das liberdades civis e das demais instituições do Estado em prol do bem comum, da conservação do direito natural e da preservação da sociedade.


Partindo do pressuposto da existência de um estado de natureza regida através de um direito natural cuja lei é a própria razão, que é inata ao homem e que não se circunscreve em nenhum recorte cronológico ou período histórico, Locke verifica que todos os homens se encontravam em um estado de igualdade, não havendo distinção ou subordinação fundamental que se possa fazer entre eles, e quando se dá o exercício de uma forma de poder que um homem exerce sobre o outro, este o faz em prol do cumprimento desta lei natural do qual todos os homens são agentes e zeladores e nunca como uma forma absoluta ou arbitrária. No entanto, o estado de natureza por si não oferece garantias quanto ao pleno funcionamento desta dinâmica de convívio entre os homens, pois essencialmente os homens passam a advogar em suas próprias causas, e é aí é que surge a necessidade do homem de se inserir em uma comunidade ou constituir um corpo político e destruir os laços do estado de natureza, mediante um pacto contratual de confiança e consentimento para com um governante, ao qual será dado o poder político e que sob a égide do governo civil, será o responsável por dar coesão a este corpo político e a assegurar os demais direitos de seus súditos.


O governo civil para Locke é o “remédio adequado para os inúmeros e graves inconvenientes do estado de natureza” e agirá como princípio garantidor de todas as liberdades, não sendo o individuo obrigado a se encontrar sujeito “a qualquer outro poder legislativo, para além daquele que tenha sido estabelecido na comunidade com o seu consentimento”, ou, em outras palavras, trata-se da liberdade dos homens em satisfazerem suas vontades, no gozo do seu direito natural, em todas as coisas que não estejam prescritas pela norma ou que não prejudiquem que o próximo exerça os mesmos direitos. Ao observarmos o segundo e terceiro artigos da Carta de Direitos francesa, que versa sobre a finalidade da constituição de uma associação política visando à preservação de direitos imprescritíveis do homem e do princípio de soberania da Nação do qual emana os poderes dos governantes, podemos perceber a clara presença da tese lockeana e do Contrato Social de Jean-Jacques Rousseau ; desse modo, da passagem do estado natural ao estado civil, verificamos a necessidade de que a forma com que esse pacto social seja feito requer amplo consenso e confiança do povo para com o governante.


Segundo Locke, o grande e principal fim que conduziu a união dos homens em sociedade e a sua submissão a um governo foi a preservação de suas propriedades. No entanto, a propriedade que aparece na Carta de Direitos do Homem e do Cidadão como um direito inviolável e sagrado, é entendida por Locke a partir da noção de que a razão natural dá aos homens o direito a sua própria preservação e de que “cada homem é proprietário de sua própria pessoa”. O homem se apropria da propriedade, não através de cercas ou marcos de divisão, mas sim com o “trabalho do seu corpo e o labor das suas mãos que são seus”; ao adicionar algo de seu, transformando alguma coisa em algo diferente daquele estado em que a natureza colocara através do produto de um trabalho qualquer, é por esta via que o homem alcança a propriedade. Portanto, o início da propriedade se verifica precisamente no emprego do trabalho e esta foi a condição que a separou daquilo que era propriedade comum de todos, nos limites delineados pela utilidade e do não prejuízo de outrem.


Por não existir um juiz conhecido e imparcial no estado de natureza, é que se torna necessário o estabelecimento do governo civil através de um sistema de direito estabelecido com rigidez, recebido e aceite pelo povo com amplo consentimento mediante uma medida comum que possa solucionar as possíveis contendas que possam surgir entre os homens. Portanto, os homens devem abdicar do seu poder singular de punição na esfera do direito natural e transferi-los a aquele que for eleito entre todos para desempenhar o seu papel tanto em termos do poder legislativo como do executivo que jamais poderá ser utilizado para outra finalidade que não seja a paz, a segurança e o bem público do povo. Deste mesmo modo, denotamos no artigo sexto da Carta à semelhança da concepção de Locke, a definição da Lei como uma expressão da vontade geral que deve ser a mesma para todos seja para punir ou para proteger.


Tal como a reivindicação básica do Iluminismo que se refere à autonomia do sujeito e as idéias de Locke e Rousseau que se fazem presentes no texto da Carta de Direitos do Homem e do Cidadão, pode-se perceber uma busca pela restituição de um direito original que havia sido perdido, tendo estas teorias como contraponto, a análise das condições humanas sob ausência de qualquer estruturação social, ou seja, no estado de natureza. Nestes termos, é que os homens deveriam abdicar dos diversos poderes que outrora eram detentores no estado natural para passarem a formar as sociedades políticas através do governo civil, para que pudessem ter seus direitos básicos e inalienáveis garantidos e que assim gozassem dos benefícios do ordenamento social.


Resumindo, a filosofia política proposta por Locke e Rousseau constituiu um dos mais importantes legados do século XVIII no que concerne a consolidação das liberdades e dos direitos dos civis encontrando uma expressão prática através da Carta redigida e aprovada no auge da Revolução Francesa. Talvez não fosse a pretensão destes pensadores que fizessem uma verdadeira revolução na forma com a qual se dá a política entre os homens, o próprio Locke teve intenções de com o Segundo Tratado do Governo legitimar Guilherme de Orange, porém, estas idéias circularam pela Europa e conseguiram sobreviver a sanções, proibições e até perdas chegando até um ponto nevrálgico que era a França revolucionária; a partir daí, fora dado um passo a mais rumo ao que caracterizou o século XVIII como a Era das Luzes.

Bibliografia

L. Kriemendahl (Org.). Filósofos do Século XVIII. Uma Introdução. São Leopoldo: Ed UNISINOS

P. Hazard. A Crise da Consciência Européia: 1680-1715. Lisboa: Ed Cosmos, 1948, 15-206.

E. Kant. Beantwortung der Frage: Was ist Aufklarüng? . Kant´s gesammelte Schriften. (Resposta à pergunta: O que é o Iluminismo? Escritos recolhidos por Kant). Berlim: Academia Prussiana de Ciências(e Sucessores),1900, volume III, 35.

T. Todorov. O espírito das Luzes. Trad. Mônica Cristina Corrêa. São Paulo: Editora Barcarolla, 2008, 13-29.

J. Locke. Segundo Tratado do Governo: Ensaio sobre a verdadeira origem, alcance e finalidade do governo civil. Fundação Calouste Gulbekian, 2007.

J. Rousseau. O Contrato Social. Trad. Paulo Neves. Porto Alegre: L&PM Editores, 2009.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

A crítica de Marx à concepção idealista da História

Karl Marx em A Ideologia Alemã intenta iniciar um processo de decomposição do sistema hegeliano defendida e desenvolvida por jovens hegelianos tais como Max Stirner, Bruno Bauer e Feuerbach. Fundamentalmente ele irá centralizar à sua crítica postulando-a de forma a desmobilizar a concepção idealista construída por Hegel de que um Espírito absoluto orientado por princípios racionais e universais que se manifesta metafisicamente na consciência dos homens seja o grande agente determinante do curso e evolução da História. Esta entidade denominada de espírito universal, através de sua substância, é tida como principio norteador de uma razão que governa o mundo e exprime seus meios e fins para efetivação de seu plano na totalidade da história universal, ou seja, ela agiu na consciência dos Povos e dos grandes indivíduos da história, e todo o seu percurso objetiva um fim último, a consciência desta substância, a consciência do homem que sabe de si e para si, a consciência de que o homem é livre enquanto homem.


Para esta vertente filosófica neo-hegeliana caracterizada por Marx de filósofos comerciantes que abarrotam o mercado alemão com os produtos da exploração do espírito absoluto, todos os indivíduos encontram-se ligados primordialmente a um interesse essencial, a sua inserção em uma determinada pátria, religião ou mentalidade são simples resultados da impressão do conteúdo advindo do próprio caráter universal e tal destina-se ao cumprimento de um fim em si.

Desta forma, os meios em que o espírito manifesta o seu conceito em suas determinações na história universal tais como substância e autoconsciência se tornaram o cerne do conjunto do sistema hegeliano, e segundo Marx, essa corrente neo-hegeliana havia se apropriado de categorias puras hegelianas e lhes dado nomes mais mundanos ou sua críticas nunca haviam atingido o conjunto do sistema. Marx aponta que a crítica filosófica alemã de Strauss a Stirner limitou-se basicamente à crítica das representações religiosas, ou seja, partindo-se das representações da religião real e da real teologia pretendiam-se alcançar à esfera das representações metafísicas, políticas, jurídicas e morais, e com isso declarou-se que toda relação dominante era uma relação religiosa e tal com os seus diversos cultos, culto do direito, do Estado, da moral. Jovens e velhos hegelianos consideravam tais representações – produtos da consciência tomada autonomamente por influência de um Espírito onipresente – como os autênticos elos que sempre uniram as sociedades humanas, e para alcançar relativa autonomia os indivíduos devem trocar a sua consciência atual por uma consciência humana e ou crítica.


No entanto, Marx antes de iniciar suas considerações sobre o que viria a ser a sua concepção materialista para opô-la ao idealismo de jovens e velhos hegelianos, identifica dois grandes problemas de sustentação: o primeiro é que todas estas formulações do âmbito das representações e possibilidades de tais teorias se limitam única e exclusivamente ao domínio dos pensamentos; e segundo que a nenhum destes filósofos pretendeu-se realizar a conexão entre a filosofia alemã e a realidade alemã, ou seja, o que Marx chama de conexão da crítica ao seu próprio meio material, sendo isto, nada mais que considerar a história humana como produto da existência de indivíduos humanos vivos – indissociabilidade entre a história da natureza e a história dos homens - que para se manterem ativos necessitam produzir seus meios materiais de vida, o que constitui o primeiro ato histórico do homem.


Marx sustenta em clara contraposição a velhos e jovens hegelianos, que o que os homens são coincide tanto com o que produzem como o modo como produzem seus meios de vida, e não a manifestação racional do espírito universal que imprimi o substancial nos homens: o homem, segundo Marx, não deve ser entendido como antítese do mundo natural e o terreno do espírito que para Hegel é tudo que ao homem interessa representa em Marx o próprio meio material de vida. Portanto, a extensão das forças produtivas e o conseqüente aumento da população daí advindo bem como o desenvolvimento da divisão do trabalho irão caracterizar, segundo a concepção materialista, elemento motriz da dinâmica da relação dos indivíduos uns com os outros, de nações para com outras nações, o que pode ser entendido na forma do intercambio espiritual e material tanto interno como externo, ou seja, representa que o intercambio dos homens entre si no processo de produção é a base de todas as outras formas de intercambio.

Logo, constatamos a contraposição empírica de Marx ao pressuposto de que a história universal fosse a exibição do processo absoluto do Espírito com seus diversos estágios na busca da autoconsciência de si e que as configurações destes estágios que são os povos históricos são representados através das particularidades de suas leis, arte, religião ou ciência.

Para Marx, é o grau do desenvolvimento das forças produtivas que denota essas particularidades e irá caracterizar as mais diversas formas do intercambio, este elemento é essencial para analisar o homem real e não os povos imaginários que vivem isoladamente como aponta os adeptos do sistema hegeliano. Em suma, Marx desconstrói a especulação e a mistificação neo-hegeliana ao propor que os indivíduos são determinados como produtores, e como tal, atuam de modo determinado e estabelecem entre si relações políticas e sociais determinadas, logo, a estrutura social, a produção de idéias, as diversas formas de representações da consciência e o Estado não emanam da determinação do fim último do espírito absoluto, mas sim, de um processo de vida condicionados sob determinados pressupostos de condições materiais que são independentes da sua vontade.

Assim, Marx concluiu que a consciência esta tanto apontada pelas correntes hegelianas, jamais poderá ser outra coisa que o ser consciente em um processo de vida real e material, ou seja, verificamos que os homens na história ao desenvolverem a sua produção e o seu intercambio material, transformam também a sua realidade, o seu pensar e os produtos de seu pensar, portanto, “não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina a consciência”.


A produção de meios que possam satisfazer as necessidades dos homens produz novas necessidades, para Marx este é o primeiro ato histórico que irá condicionar o curso e evolução da História, ao contrário de Hegel, que vê na busca pelo fim último o sentido do Espírito universal efetivar a realização do seu conceito. Logo, estamos constatando justamente a oposição entre a expansão das forças produtivas para satisfazer as necessidades materiais e espirituais dos homens e a necessidade que o Espírito tem de atingir o seu conceito. Tentarei elucidar através do exemplo da história de Roma antiga.


A idéia hegeliana de progressão ou desenvolvimento no curso da História verifica-se ao analisar-se o objeto no duro trabalho de si mesmo para atingir o seu conteúdo, ela só faz sentido mediante ao seu objeto e daí obtém o seu significado, como por exemplo, na história romana, em que o retrocesso/desenvolvimento de Roma só pode ser verificado como causalidade externa, o fato do Império Romano ter sido desmembrado constitui-se como um fim relativo e não absoluto, através deste entendimento a evolução seria sempre o resultado das transformações no plano da Espírito. Portanto, na Itália de hoje do qual uma de suas configurações tinha sido a Roma republicana ou imperial, neste longo e lento processo histórico, desvaneceram-se as determinações particulares para persistirem as configurações universais, logo, as invasões bárbaras teriam sido responsáveis na qualidade de agentes externos pela permanência dos caracteres universais do que hoje conhecemos como Itália.

Em Marx, por outro lado, não excluindo a possibilidade de encontrarmos outras causas para as invasões bárbaras que soçobraram o Império Romano, verificaríamos que Roma e os povos germânicos haviam atingido determinado grau de desenvolvimento de suas forças produtivas e aumento de população que a guerra tornara-se um instrumento para a realização do intercambio necessário para que continuassem satisfazendo suas necessidades materiais e espirituais, ou para que, a divisão do trabalho dos respectivos povos fosse novamente superada.


Podemos verificar também o choque entre as concepções materialista e idealista na contradição latente entre os interesses particulares e coletivos. Hegel utiliza-se do exemplo dos grandes homens da história universal tais como César, Alexandre Magno, Napoleão etc. Na interpretação hegeliana, tais indivíduos apreenderam este universal superior e converteram-no em um fim seu, ou seja, realizam um fim conforme o conceito superior do espírito. Trata-se do espírito oculto agindo nos homens histórico mundiais fazendo com que seus “discursos e suas ações” fossem o melhor que se podia fazer, que dizem aos homens o que eles querem e os mesmos concordam e aderem, enfim, são indivíduos que são irremediavelmente impelidos a realizar a sua obra, a sua paixão o seu arbítrio, porém, sem saberem, realizam simultaneamente o seu fim e o do universal, logo, seus interesses tomam a feição dos interesses coletivos.


Em Marx, é nessa contradição entre interesse particular e coletivo que o interesse coletivo toma na qualidade de Estado uma forma individualizada, separada dos reais interesses particulares e gerais e simultaneamente na qualidade de uma coletividade ilusória fixada nas bases dos laços sociais existentes tais como laços de sangue, família, tribo, escala da divisão do trabalho; sobretudo, quando tais interesses já forem baseados em classe como conseqüência do grau de desenvolvimento da divisão do trabalho. Com a matização das classes é que os indivíduos começam a se isolar em torno de determinados conglomerados das quais umas dominam outras e daí segue-se as lutas no interior do Estado, dos interesses particulares e coletivos, que segundo Marx, são “formas ilusórias nas quais se desenrolam as lutas reais entre as diferentes classes”. Portanto, toda classe que aspira a dominação deve concentrar em si o poder político que irá mostrar-se na forma do interesse geral e os demais indivíduos cooperam involuntariamente para tal fim, ou seja, para fazer prevalecer os interesses particulares de uma classe dominante.

Desta forma, Marx pressupõe o fato de que é empírica a atuação de indivíduos singulares que fazem da extensão de suas atividades uma atividade histórico mundial, porém, caracteriza como “travessura do assim chamado espírito universal” a idéia hegeliana desse poder estranho aos homens que os impelem a agir e modificar o curso da História, para ele, esse poder que se torna cada vez maior e influente nos fatos históricos e nas relações humanas é em sua última instância o próprio mercado mundial, ou se preferirmos, os diversos estágios do desenvolvimento do sistema capitalista. Assim, verificamos que a concepção de História que Marx está defendendo é o reflexo do processo de produção que decorre da própria necessidade de produção material da vida imediata e as formas de intercambio engendradas por este processo. Portanto, ela nos apresenta e nos permite entender as diversas configurações da sociedade civil em suas diferentes fases como fundamento de toda a história, apresentando a sua ação enquanto Estado e explicando a partir dela as diversas formas de consciência e representações da mesma – a religião, a moral, as leis, as artes, as ciências. Ao contrário da concepção idealista, trata-se de explicar as formações ideológicas a partir da práxis material, entender a História como a soma de forças de produção numa relação historicamente construída entre os indivíduos e a natureza, ou seja, a teoria do materialismo histórico afirma que a própria soma de forças de produção, de capitais e de formas sociais de intercambio que cada geração encontra como algo estabelecido, é o fundamento real daquilo que jovens e velhos hegelianos representaram como “substância” ou “essência” do devir humano na construção da História. Sendo assim, o que Marx pretende é desconstruir a idéia de que a história se faça somente pela ação políticas dos príncipes e do Estado no qual o espírito universal emana e faz com que todos os indivíduos compartilhem em cada época histórica da “ilusão dessa época”. Em suma, Marx esboça na Ideologia alemã e na importância dada aos elementos acima mencionados o cerne do que irá constituir-se a teoria marxista.

Textos utilizados como referência:

HEGEL, G.W.F. A Razão na História: Introdução à Filosofia da História Universal. Lisboa: edições 70,1995; p.27-154.

MARX,Karl; ENGELS, Friedrich – A Ideologia Alemã: Feuerbach. Ed. Grijalbo, 1977; p. 21-109.

MARX, Karl – O Capital: Crítica da Economia Política. Vol I, São Paulo: Abril, 1983.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Pregadores e Missionários na cultura do barroco

O Homem Barroco é um livro escrito por um grupo de especialistas de renome e dirigido por Rosário Vilari, descreve a sociedade barroca enquanto organismo social estruturado segundo hierarquias reconhecidas e aceites, onde cada elemento tem um lugar e uma função. Surgem então figuras como o estadista, o soldado, o financeiro, o secretário, o rebelde, o pregador, o missionário, a religiosa, a bruxa, o cientista, o artista e o burguês – cada uma delas contribuindo para que este período da história européia, muitas vezes considerado como época de estagnação no progresso da civilização, fosse na realidade uma importante etapa para a criação de um novo equilíbrio social e político e para o aparecimento de modos de sentir e de pensar que são já de plena modernidade.

Antes de partirmos propriamente dito para o tema desta resenha crítica, ou seja, especificamente no que se refere ao capítulo O Pregador escritos por Manuel Morán e José Andrés-Gallego e O Missionário por Adriano Prosperi, temos que lembrar alguns aspectos importantes referentes às experiências e condições gerais (culturais, religiosas e políticas) para o delineamento da figura do Homem Barroco. Esta expressão “homem barroco” é quase uma expressão inédita, anteriormente, o uso do termo barroco só teria sido admitido para a correlação das manifestações artísticas e tendências literárias, não para, a caracterização de modos de pensar e ver o mundo do período da história européia que vai de fins do século XVI até a segunda metade do século XVII. Benedetto Croce já havia falado de “época barroca”, porém, restituía ao termo o seu significado tradicional negativo enquanto alargava o âmbito de sua utilização para demonstrar nessa época os traços fundamentais de uma cultura que era expressão da decadência e da crise moral. Todavia, são necessárias cautelas com a pretensão de se descobrir em todo o mundo seiscentista uma unidade espiritual e intelectual sólida, uma vez que, a atribuição de características próprias referentes a um modo especifico de pensar, sentir e agir no período está muito presente na cultura histórica da contemporaneidade. No entanto, são bastantes presentes algumas caracterizações na fala de historiadores como Roland Mousnier que colocaram está época como “um século de crise”, ou como José Antonio Maravall que descreve o período “em que a sociedade é dominada por uma sensação de ameaça e instabilidade que gera, por reação, uma cultura conservadora e repressiva”.

A conflitualidade do barroco muito marcou os historiadores pela sua intensidade, pela sua difusão e pela sua influencia nos modos de pensar e agir. Este período é marcado por um confronto das esferas políticas e religiosas, pela amplitude das guerras, o agravamento dos antagonismos sociais e as questões de procedência do dia-a-dia de rituais administrativos e eclesiásticos e modelos de comportamento previamente aceites e estabelecidos. O historiador inglês John Elliot, ainda sugeriu a hipótese de que também se poderia falar de crise revolucionária geral quanto aos anos das guerras de religião, desestruturando a idéia da singularidade desses eventos em alguns países, na primeira metade do século XVII.

No entanto, deve-se lembrar que o aspecto essencial da conflitualidade barroca reside muito mais na existência de comportamentos aparentemente incompatíveis ou nitidamente contraditórios no âmago do mesmo individuo, do que no, contraste entre indivíduos diferentes. Há uma clara convivência entre o tradicionalismo e a busca de novidade, de conservadorismo e rebelião, de amores à verdade e cultos da dissimulação, superstição e racionalidade, de afirmação do direito natural e de exaltação do poder absoluto, enfim, são inúmeras as características conflituosas que podem ser encontradas em diferentes matizes em todo o mundo barroco. Durante muito tempo, defrontando-se com os mistérios dessas contradições estruturais e íntimas, e de certa forma influenciados pela imagem negativa que a época barroca transmitiu de si mesmas, a cultura histórica acabou por admitir em relação a este período, uma espécie de incapacidade de contribuir para o progresso da civilização com amplos movimentos de idéias e empenho coletivo, sinalizando assim, que estas características de conflitualidade e contradição agiriam de forma obstrutiva e estagnadora das forças propulsoras do progresso da civilização ocidental. Frente a este pano de fundo do mundo barroco, algumas personalidades foram caracterizadas mais como exceções do que como autênticas expressões do seu tempo como: Galileu, Bodin, Bacon, Descartes, Sarpi e Espinosa.

O século XVII foi praticamente original no que se refere à criação e tentativa de imposição na cultura e na mentalidade de modelos rígidos de tipos sociais, fórmulas e critérios de interpretação. Este grande empenho, certamente foi influenciado pelo boom das crônicas acerca de acontecimentos e pessoas da época, o início da propaganda política de massa – o jornalismo, os panfletos, folhas volantes -, porém, teve papel vital dentro desse processo de disciplinamento social, a atuação da Igreja através das resoluções do Concílio de Trento.

Como nos remete a imagem invocada por um grande pensador italiano, Benedetto Croce: “Quem pode pensar no século XVII sem rever em sonhos a figura do pregador, vestido de negro como um jesuíta, ou vestido de branco como um dominicano(...), gesticulando numa igreja barroca, perante um auditório luxuosamente vestido?”. A grande presença do clero regular e da decoração barroca são referências que destacam o valor paradigmático do pregador na época pós-tridentina. Na grande crise religiosa do século anterior, a questão da pregação fora um elemento muito importante que causou a fratura da unidade espiritual não só entre católicos e reformados, mas também entre eles próprios.

Partindo do ponto de vista dos reformados, o valor instrumental da pregação, ou seja, o ministério da Palavra, sobressaía à função sacramental do pregador. Sendo assim, principalmente entre os católicos, a livre interpretação da bíblia, por exemplo, poderia a dar lugar a concepções religiosas, sociais e políticas que poderiam desembocar numa revolução. Daí a importância da figura do pregador na estratégia católica pós-tridentina, que se viu diante de uma dupla necessidade: recuperar para a fé os que dela tinham se desviado e consolidar a adesão espiritual de quem permanecera fiel a Roma. A grande crise provocada por Lutero, mostrou para a Igreja, que um dos motivos da falta de fé entre os fiéis era principalmente causado pelas deficiências de doutrinação. Desta forma, o Concílio de Trento definiu a doutrina católica em aspectos tão importantes como os sacramentos.

Elaborou um vasto programa de divulgação da própria doutrina principalmente destinados à formação dos sacerdotes, a pregação e o ensino do catecismo. No que concerne à pregação, esta foi o objeto de uma das primeiras seções da Assembléia Magna Tridentina, datada de 17 de junho de 1546, de onde foi constituído o decreto Super lectione et praedicatione, que seguiu e caracterizou-se no cânone IV do Decretum de reformatione. Era indispensável que os pastores de almas ensinassem “o que todos devem saber para alcançar a salvação eterna”.

Como conseqüência do que ficou dito anteriormente, temos que a retórica que já possuía uma relevância especial na história da cultura do Ocidente, ganhou um novo impulso com as Reformas protestantes e católicas. Surge assim, diversos matizes da oratória sagrada, e dos quais o que mais se destacou nesta época é a chamada pregação barroca “gesticulante”.Há um século que já se discutia sobre as conveniências de se pregar em “estilo lhano” (baseada, sobretudo, em Sêneca e na tradição “ática”), ou de se pregar em “grande estilo” (derivada de Cícero).

Os pregadores deveriam ser “vozes de Deus, instrumentos da bondade divina e trombetas de Cristo” como escreveu Diego Valdés em Rethorica Christiana, publicada em 1574 e lida em toda Europa e América; e para isso a retórica não deveria somente pretender a iluminar e ilustrar, mas, sobretudo, cativar, comover e emocionar os fiéis. Mesmo para os teólogos protestantes, a fé não era apenas consenso intelectual, mas alegria, verdade e esperança, ou seja, atitudes relacionadas à vontade, sendo assim, este deveria ser o objetivo da pregação: que para suscitar ou reavivar a fé dos ouvintes, o pregador deveria excitar as suas vontades.

Para atingir o seu objetivo, a Reforma católica fez o uso intensivo da arte do seu tempo: a exuberância decorativa, a tendência para a hipérbole, os movimento centrífugos e uma série de outras ferramentas para gerar sentimentos de fervor e de admiração na contemplação das coisas divinas, que podem ser facilmente percebidas, por exemplo, através das músicas e da arquitetura barrocas. No plano da retórica, que invariavelmente se associa a literatura profana também, emanam estilos como a pregação cultista e a conceptista neste trabalho de comoção das almas. De maneira geral, os temas mais característicos do repertório barroco destinavam-se a fazer entrever as realidades otimistas, como a glória e a felicidade no Além com o percurso sinuoso e aterrorizador repleto de armadilhas do diabo que deseja nos conduzir ao inferno; Como é o caminho percorrido pelo frei Manuel Guerra y Ribeira no seu sermão para uma quarta-feira de cinzas em 1679: “O que é o mundo? Nada mais que um evidente engano, que cria um espetáculo falaz: aparências que ofuscam mais do que deleitam”.

Todavia, a quem cabia ensinar o Evangelho? O Concílio de Trento foi muito claro acerca deste ponto, recordando que os bispos tinham a responsabilidade de pregar nas suas igrejas, aos domingos e dias festivos. É certo que a pregação pessoal dos bispos só cobria uma pequena parcela do programa pastoral da Reforma Católica – que tinham outras tarefas como supervisionar a idoneidade do culto ministerial dos eclesiásticos em sua diocese e outras tarefas administrativas.

Sendo assim, a partir deste momento a Igreja percebeu que era necessário o investimento na formação de melhores pregadores e sacerdotes. A Igreja continuava a ser a única instituição onde existia um certo grau de mobilidade social e onde mais facilmente um homem de condição humilde poderia ser promovido por mérito pessoal. Logo, o instrumento mais válido encontrado e recomendado pelo concílio de Trento para remediar as deficiências da atuação doutrinária, foi a criação dos seminários e a admissão de seminaristas que partia de uma exigência vocacional especificamente orientada para uma mentalidade profissional na execução de tarefas pastorais: pregação, liturgia e administração dos sacramentos.

O uso da imprensa também tinha posto a disposição dos eclesiásticos um bom material auxiliar sob a forma de manuais de eloqüência e coletâneas de sermões, geralmente ordenados em função do ciclo litúrgico, o que permitia de certa maneira suprir as deficiências doutrinais e de oratória. É de grande importância também a influencia dos cleros regulares – que até mesmo anteriormente ao Concílio tridentino já possuíam um grande conhecimento sobre formas de pregação – que levarão a doutrina católica até os campos e os confins da Europa.

Ordens mendicantes como os franciscanos, dominicanos, carmelitas e beneditinos serão de suma importância por já terem atingido o máximo de qualidade no cumprimento de suas funções como pregadores (justamente devido a suas formações) fora das dioceses; claro sem nos esquecermos, das novas ordens de cunho missionário como a Companhia de Jesus. A atividade pastoral dos cleros regulares, que de inicio fora um instrumento subsidiário, acabou por se tornar indispensável pelos bispos, desempenhando funções diretamente orientadas para a conversão e a catequese.

A Reforma Católica dificilmente teria chegado a maioria dos europeus, caso a pregação se limitasse somente aos centros urbanos, onde certamente havia muitas paróquias e conventos, porém, que apenas uma pequena parcela da população residia. Este problema da distribuição das populações entre os centros urbanos e as zonas rurais foi resolvido com a aplicação das missões internas (principalmente atribuídas ás ordens monásticas e as novas congregações), tratava-se de uma evangelização itinerante em que um grupo de pregadores se deslocavam de ponto em ponto, sobretudo nas áreas rurais, instruindo as pessoas à reavivarem a sua fé e a viverem sob os preceitos da Igreja Católica, convertendo os protestantes ou melhorando as condições espirituais dos católicos insistindo nos aspectos catequísticos e penitenciais.

Assim, a Igreja agora tanto para o clero secular como o regular, passou a dispor de uma ratio stiudorum (um método pedagógico que visava a acumulação de alguns saberes essenciais na formação dos seus pregadores baseados sobretudos nos autores clássicos), um cursus honorum até a habilitação para a pregação; ter uma certa habilidade no manejo das Sagradas Escrituras, dominar o latim, o grego, o hebraico e ter o prévio conhecimento de qualquer outra matéria que se faça necessária. Enfim, o pregador deveria ter o pleno conhecimento das técnicas envolvidas na criação do sermão com suas diferentes passagens de níveis (exórdio, exposição, confirmação e conclusão) utilizando-se da oratória e das técnicas dialéticas para o convencimento do público e acrescentamento de fiéis ao rebanho de Cristo.

Quanto ao caminho para a conservação da fé entre os fiéis e a luta pela difusão entre os infiéis, a Igreja tinha dois meios de se proceder. Para os primeiros, a solução proposta era de cunho apostólico, doutrinal e moral simbolizada pelas missões entre os mais diversos povos e os seminários preparados para formarem sacerdotes aptos; para os outros, a solução do castigo e das perseguições da Santa Inquisição pareciam não funcionar como outrora. No século XVII, quando o empenho missionário adquiriu certa proeminência, a Inquisição, de certa forma, já teria concluído o seu trabalho, ou seja, a heresia não era mais um elemento de preocupação primordial no interior dos países católicos. Sendo assim, entre a violência e a brandura, a brandura pareceu ser a opção mais viável no contexto da estratégia católica pós-tridentina. Na Europa, era necessário conquistar-se os príncipes para conquistar seus súditos; fora do continente, o espírito missionário do trabalho da Companhia de Jesus, embora não tenha acrescentado muitos adeptos em sociedades e culturas complexas como Japão e China, será um grande exemplo de quão pretensiosa fora a reação católica.

Na conquista da América, por exemplo, a obra missionária possuía uma estrutura apoiada principalmente no uso da força; porém, na Índia, Japão e China, os missionários só podiam contar com suas próprias capacidades. Para isso, além das capacidades daqueles que estavam em missão no estrangeiro, a Igreja mostrou ser detentora de um espírito flexível e adaptativo. “Adaptar-se aos outros”, na interpretação corrente da Companhia de Jesus, era o meio necessário para atingir o objetivo de os “ganhar para Cristo”, “aprovando o que é digno de ser aprovado e suportando e dissimulando algumas coisas[..]”, logo, temos que, tratava-se mais de uma estratégia de fingimento e de astúcia num projeto de dominação de uma cultura diferente. A adaptação seria um meio, a conquista religiosa seria o fim: e o fim justificava os meios; esta era a maneira encontrada no seio da Companhia de Jesus para justificar-se as causas da não insistência demasiada nos símbolos da Cristandade para com as culturas “superiores e complexas”. Matteo Ricci e Alessandro Valignano, certamente foram os expoentes da Companhia de Jesus na defesa da estratégia da adaptação, e essas discussões levaram à diversas contendas no interior da S.J. , pois, também haviam aqueles que optavam pelo caminho da violência e da intimidação.

Em suma, podemos identificar que, a estratégia católica após o Concílio de Trento destinava-se a comover o coração dos fiéis através de novas formas de pregação e preparo dos sacerdotes, e que a atividade missionária (principalmente através da estratégia da adaptação), tinha então uma função complementar e corretora das graves deficiências da Igreja em uma época de grande descrédito principalmente do clero secular. A questão da penitência, e dos sentimentos de culpa causados pelos pecados continuaram a manter-se no centro do cristianismo moderno. Descobriu-se que a confissão poderia ser o elo mais próximo da Igreja para com o indivíduo e que assim, podia-se manter um certo nível de controle social e mental. A Igreja Católica a partir das resoluções tridentinas foi dotada de extrema sensibilidade em descobrir de que forma poderia continuar a manter a sua proeminência e como na essência do homem barroco, que era a conflitualidade entre a fé e a razão, conseguiria continuar a exercer o monopólio das consciências.



Bibliografia utilizada como referência para esta resenha.

VILLARI, Rosário. O Homem Barroco, Roma-Bari, Laterza, 1991, pp. 7-176, trad: Maria J. V. Figueiredo.
MARAVALL, José Antonio. La cultura del Barroco: análisis de una estructura histórica. Barcelona, Ariel,1975. Parte III “Elementos de uma visão barroca do mundo”.
PRODI, Paolo. Uma História da Justiça, São Paulo, Martins Fontes,2005, cap VI: A Solução Católico-Tridentina.
TREVOR-ROPER, H. R. Religião, Reforma e Transformação Social, Lisboa, Ed. Presença, 1981. Cap I e II